Sementes da sustentabilidade
Programa incentiva uso de adubação verde na agricultura orgânica e integra governo, pesquisadores, técnicos extensionistas e agricultores familiares
Brasília (20/12/2010) – Terra fértil e pronta para a produção de alimentos de forma sustentável e sem prejudicar o solo é o resultado obtido pelos agricultores que utilizam adubos verdes. A prática é antiga, conhecida por chineses, gregos e romanos há mais de dois mil anos, e se baseia no plantio de espécies que fixam o nitrogênio, preparando o terreno com nutrientes para outras culturas.
Para disseminar o uso e manejo de adubos verdes, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) deu início, em 2007, ao Programa Bancos Comunitários de Sementes de Adubos Verdes, em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). A iniciativa já alcançou 16 estados e o Distrito Federal. Além da participação de pesquisadores da Embrapa, conta com o apoio de 200 profissionais da assistência técnica, extensão rural e órgãos de pesquisa que compõem as Comissões Estaduais da Produção Orgânica nas Unidades da Federação (CPOrgs).
Na cidade de Seropédica (RJ), a Embrapa Agrobiologia atua como unidade propagadora da ideia. Os pesquisadores capacitam os extensionistas que, por sua vez, repassam o conhecimento aos agricultores e acompanham o plantio, o uso de adubos verdes, a produção de sementes e a formação dos bancos comunitários. “O programa favorece o diálogo entre governo, agricultores, extensionistas e cientistas”, destaca o agrônomo José Guilherme Guerra, pesquisador da Embrapa.
A lógica do programa é simples: os grupos de agricultores interessados entram em contato com a CPOrg, na Superintendência Federal de Agricultura do estado, onde a adesão é avaliada e planejada. A partir daí, começa o curso de capacitação com a distribuição de cartilhas sobre adubação verde das sementes que serão utilizadas no primeiro plantio.
Os agricultores ou entidades representantes assinam um termo com o compromisso de produzir, pelo menos, a mesma quantidade de sementes que receberam para a formação dos bancos familiares ou comunitários. “A ação é fundamental para a agricultura familiar porque viabiliza a técnica, fornece a matéria-prima, que ainda é de difícil acesso no mercado, e proporciona aumento na produção de forma sustentável”, enfatiza José Guerra.
Na fase inicial do programa, os agricultores receberam sementes de crotalária juncea, feijão guandu e mucuna preta, tipos de leguminosas mais populares, com maior capacidade de adaptação a diferentes condições de solo e clima. A demanda regional possibilitou a inclusão de outras espécies. O programa inclui 12 espécies de adubos verdes e ampliará ainda mais essa diversidade a partir do plantio na safra 2010/2011. O Rio de Janeiro, por exemplo, adotou mais sete espécies, incluindo o nabo forrageiro, o tremoço branco e a ervilhaca, mais propícias ao clima frio característico da região serrana. Atualmente, 174 produtores fluminenses, em 33 municípios, receberam orientações para o uso e manejo dos adubos verdes e a produção de sementes necessárias à formação dos bancos.
O pesquisador da Embrapa Agrobiologia define a adubação verde como uma técnica de caráter multifuncional que melhora as condições químicas, físicas e biológicas do solo. “É bem diferente de usar um adubo químico que apenas induz o ganho de produção”, analisa.
Expansão do Programa
Em Minas Gerais, um dos destaques nacionais, o programa se consolida como uma política pública para a agricultura. Atualmente, 302 dos 853 municípios têm atividades vinculadas ao programa e 781 agricultores estão envolvidos diretamente por meio de grupos informais, associações ou cooperativas.
A 278 km de Belo Horizonte, no município de Três Marias, a Associação Comunitária do Bonfim e Adjacentes (Asbon) é um exemplo de sucesso no emprego dos adubos verdes e compartilhamento das sementes. Formado majoritariamente por mulheres, o grupo reúne 33 produtores rurais que plantam milho, morango e hortaliças no sistema orgânico. São utilizadas as espécies que compõem o banco comunitário para fertilizar a terra e distribuir sementes a outros interessados.
A presidente da Asbon, Ana Lúcia Fernandes Pereira, lembra que abandonou a metodologia de adubos químicos assim que conheceu os benefícios dos fertilizantes orgânicos. “Os nossos pais e os mais antigos não avançaram muito usando produtos químicos. As terras aqui já estavam improdutivas e a gente tinha consciência de que era preciso trabalhar formas mais orgânicas. A adubação verde promoveu muitas melhorias”, diz.
O técnico Magno Rocha, da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) de Três Marias, orienta os produtores da Asbon desde 2007. Ele confirma que os adubos verdes são importantes para a produção de alimentos orgânicos e essenciais para a recuperação do solo. “Além disso, a prática permite a autossuficiência dos agricultores, que eliminam despesas com fertilizantes industrializados quando mantêm o banco de sementes”, observa.
As espécies de leguminosas disponíveis (trepadeiras, rasteiras ou arbustivas) oferecem resultados diferentes na adubação e, por isso, devem ser adequadas à cultura principal para oferecer o melhor resultado. Na Embrapa Milho e Sorgo, perto da capital mineira, o pesquisador Walter Matrângulo vê a aplicação desses adubos como uma prática estimulante não só para a produção de alimentos. “O produtor precisa ter a percepção da arquitetura das plantas, saber a época de florescimento, quantidade de luz e sombra e medir os benefícios de cada uma. Isso exige instinto investigativo, que aproxima mais o agricultor e a roça”, afirma.
A unidade demonstrativa da Embrapa Milho e Sorgo também atrai a atenção dos produtores e é um instrumento usado para convencê-los a darem o primeiro passo rumo à adubação verde, de acordo com o técnico da Emater que coordena as atividades do programa na região de Sete Lagoas e Belo Horizonte, Walfrido Machado Albernaz. “Procuramos aqueles que já têm interesse em plantar, falamos sobre a importância, damos exemplos da técnica e fazemos reuniões para discutir os resultados”, afirma o extensionista.
Albernaz diz ainda que um dos maiores desafios é mostrar que o trabalho mais intenso de manutenção exigido pelo emprego de adubos verdes é recompensado pelos resultados. “Quem planta hortaliça já tem que fazer a rotação de cultura, mas, no caso do milho, o consórcio com o adubo verde aumenta a necessidade de mão-de-obra. Isso traz um pouco de resistência dos produtores na hora de aderir a essa forma de adubação”, explica.
Além do Rio de Janeiro e Minas Gerais, o programa ganha importância no Acre, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Na Bahia, Distrito Federal, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Pernambuco, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e Tocantins os bancos ainda estão sendo consolidados. Piauí e Espírito Santo já solicitaram a implantação
Em três anos de programa, são mais de 3.400 agricultores beneficiados em todo o país. Foram distribuídas 48 toneladas de sementes e estão formados ou em organização, mais de 300 bancos comunitários ou familiares de sementes de espécies utilizadas como adubos verdes. A expectativa do Ministério da Agricultura é manter o programa até 2015. Os interessados em participar devem entrar em contato com a coordenação do programa de sua unidade da Federação. (Leilane Alves)
Ascom-Rezende
Fonte: R2CPRESS/Roberto Rabat