Produtores baianos trocam produtos por insumos agrícolas

Você já ouviu falar de barter?
O termo, que vem do inglês, serve para nomear uma prática econômica quase tão antiga quanto a própria humanidade: a troca de produtos. É assim que produtores agrícolas e algumas empresas de insumos estão negociando.

Na opinião do professor Guilherme Augusto Vieira, do curso de administração em agronegócios da Fundação Visconde de Cairu, o barter é vantajoso ao produtor. “O grande problema dele é justamente ter os insumos para a produção”, observa.

“Essa troca compensa muito para o produtor, porque o insumo já tem um custo fixo para ele. Para a empresa que vende o insumo é bom porque ela tem garantia de que vai receber o correspondente e está vendendo o seu produto”, ressalta.

O produtor agrícola Paulo Mizote conheceu o barter há oito anos, quando fazia parte de uma cooperativa agrícola em Barreiras, que comprava defensivos agrícolas deste modo. Para o agricultor, que chega a ter 40% dos custos diretos de sua produção de algodão só com defensivos, a alternativa é vantajosa.

“Provavelmente há um valor menor de juros embutidos no preço.É mais barato que na revenda”, opina.

O barter ainda não é uma prática absoluta no mercado de insumos agrícolas, mas algumas empresas de destaque no setor vêm investindo com entusiasmo nisso.

A pioneira neste mercado é a Syngenta, que começou com o barter há dez anos. O gerente nacional de barter da empresa, Dirceu Ferreira Júnior, conta que a ideia surgiu coma alta do câmbio, no final da década de 90. “Entre 1999 e 2000, fazer contrato em dólar não era seguro”, lembra.

Atualmente a empresa trabalha com mais de dez tipos de commodities, entre eles soja, algodão e cana-de-açúcar, que variam conforme a região do País. “Se penso em frutas, estou falando de Nordeste. Soja, o Brasil inteiro cultiva. Já os nossos clientes de algodão estão na Bahia, Mato Grosso e Goiás, por exemplo”, conta o diretor da Syngenta.

Ferreira Júnior estima que o barter representa 35% dos negócios da empresa – cerca de 20% desse percentual corresponde à participação dos produtores baianos no negócio, especialmente os de algodão e soja.

“Em 10 anos, esse número só vem subindo.A expectativa é que continue crescendo, mas isso obviamente depende também do mercado”, diz gerente de barter.

Outra empresa que vem usando o barter é a Basf, nome do setor químico que atua neste sistema desde 2004. No início as operações eram limitadas aos produtores de café de Minas Gerais, que trocavam uma parcela da sua produção correspondente ao valor dos defensivos agrícolas adquiridos.Hoje, a operação é feita no Brasil inteiro.

Em 2009, o barter foi responsável por 15% dos negócios da Basf, que espera dobrar o percentual até o final de 2011. “Sentimos em nossos clientes que há demanda”, diz gerente do Departamento de Operações Comerciais da Basf, Patrícia Ambrósio.

Algumas regiões, em especial, aderiram mais ao barter, como os estados de Mato Grosso, Tocantins, Maranhão, Piauí e Bahia. “São mercados mais desenvolvidos neste tipo de operação. Os produtores estão mais acostumados com esse estilo de negociação”, observa Ambrósio.

Na Bahia, a empresa atua nesses moldes há quase cinco anos. As vendas no Estado correspondem, desde 2009, a 12% das operações de barter da Basf no País.

O uso da expressão em inglês pode dar a impressão de que o barter é uma ideia dos gringos importada para a realidade brasileira. É justamente o contrário.

O sucesso nacional estimula, inclusive, as empresas a aplicarem a ideia em terras estrangeiras. Tanto a Basf quanto a Syngenta têm planos de levar a prática para países com realidades similares à do Brasil, como a vizinha Argentina e os países do distante Leste Europeu.

Índice de inadimplência na modalidade é bastante baixo

Tanto a Basf quanto a Syngenta afirmam que o índice de inadimplência neste tipo de modalidade comercial é baixíssimo. “É próximo de zero”, afirma o diretor de barter da Syngenta, Dirceu Ferreira Júnior.

No caso da Syngenta, as operações são intermediadas por uma trading company, que recebe as commodities agrícolas dos produtores e paga o equivalente em dinheiro à empresa de insumos agrícolas. Os preços são fixados no ato da compra, conforme a previsão de mercado futuro estimada para a época do pagamento dos insumos.

Mas nem todas as empresas trabalham via trading. A Basf, por exemplo, opera também com a modalidade financeira.Nesta opção, o produtor paga diretamente à empresa o valor indexado convertido em reais pelo preço do dia da commodity.

As empresas ainda costumam usar a CPR (cédula de produto rural) como meio de conferir maior segurança à transação. “Na CPR, o produtor rural diz que vai plantar tal cultura e que vai dar o produto em determinada quantidade e condição. Em caso de inadimplência, posso usá-la; é uma garantia para a gente e para a trading de que vamos receber”, diz Ferreira Júnior

Ascom – Armênio

Fonte: Seagri