Pecuaristas baianos apostam na criação de ovinos para corte
Criar cordeiro para corte é um bom negócio para pecuaristas baianos. Com o direcionamento da produção dos criadores uruguaios – responsáveis por 80% do fornecimento deste tipo de carne para a alta gastronomia brasileira – para os mercados anglo e europeu, abre-se a os brasileiros a oportunidade de ganhos significativos no mercado interno.
“Enquanto a arroba do boi é cotada a R$ 100, a do cordeiro é negociada por R$ 150”, ressalta o criador de gado bovino e ovino do município de Senhor do Bonfim, José Ranulfo Guimarães. Ele conta que investe na criação de cordeiro há quatro anos, quando começou a perceber a tendência de expansão desse mercado.
A intuição, à época, se confirmou em bons lucros.
“Nesse período, a alta foi, em média, de 50%. Só no ano passado, a carne de cordeiro subiu 42%, passando a custar R$ 10 o quilo”, diz. “E não vai parar por aí”, acredita. Hoje, a fazenda possui plantel com 2,5 mil matrizes. O plano é ampliar este número para seis mil até 2012.
Guimarães atende ao exigente mercado paulista e faz parte de uma cooperativa de São Paulo. “Eu e mais quatro criadores da região nos associamos a esta cooperativa, como compromisso de cumprir uma meta anual. A minha produção é de quatro mil cordeiros por ano. Em julho, já terei condições de atingir a meta”, comemora.
Genética Mas,fazendas como as de José Ranulfo Guimarães são exceção na Bahia. Apesar do Estado disputar a liderança em rebanho como Rio Grande do Sul,aplicação de técnicas adequadas de manejo ainda é muito pequena.
“A Bahia está começando a criar cordeiros. É um gigante adormecido. Temos apenas 20% do que precisamos para atender a ao mercado”, avalia Guimarães, referindo-se, como ressaltou, à produção de carne de qualidade.
Segundo ele, uma das condições para o sucesso nesse exigente mercado é o investimento em genética.
“A oportunidade está aí, mas precisamos adquirir o conhecimento e aprofundar a pesquisa, coisa que o pessoal da agricultura já faz”, frisa Hélcio Souza, representante da Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos da Bahia (Acooba) na Câmara Setorial da Cadeira Produtiva de Caprinos e Ovinos.
O melhoramento genético, diz ele, é de fundamental importância para a produção de animais cujas carcaças ganhem peso em menos tempo e possuam carne com bom teor de gordura. “Aqui cruzamos Dorper com Santo Inês.
Em cinco meses, esse gado atinge 20 kg de carcaça. Normalmente, isso demoraria um ano”, conta Guimarães.
Competitividade baiana pode ser realidade em cinco anos
Apesar de a produção de carne de cordeiro de qualidade na Bahia ainda ser incipiente, especialistas acreditam que dentro de cinco anos o Estado se tornará competitivo no mercado nacional. “Estamos perdendo tempo pela falta de conhecimento genético, mas vamos chegar lá dentro desse prazo”, comenta o veterinário e criador Hélcio Souza, embora reconhecendo que, normalmente, se alcançaria esse resultado em um ano.
“Mesmo assim, hoje já temos muito mais conhecimento que há cinco ou 10 anos”, diz. A deficiência na produção tem reflexo, ainda, no desempenho dos frigoríficos baianos. A Bahia possui cinco que vendem este tipo de carne. “Desses, quatro estão com dificuldade de abastecimento”, afirma Souza.
O veterinário acredita que isso se deve ao “descompromisso” daproduçãolocal. “Este sistema está totalmente dependente da chuva. Se não chove, não tempasto e o gado não engorda”, explica. Outro problema na cadeia produtiva, diz, é o abate clandestino.
“Noventa e oito por cento do abate de ovino no Nordeste é ilegal”, estima Souza.
Baby Bode Algumas iniciativas já surgem no sentido de melhorar a qualidade da carne baiana.
O frigorífico Baby Bode, de Feira de Santana, por exemplo, firmou parceria com 70 criadores de Manoel Vitorino, município a 130 km de Vitória da Conquista,para a melhoria da produção das carnes de cabrito e cordeiro.
“Os parceiros entram com a propriedade,o rebanho,os insumos agrícolas e a mão-de-obra familiar. O frigorífico fornece reprodutores de alta linhagem Dorper e Boer, além de assistência técnica, através do convênio com o Senar-Sebrae/Idan”, diz o gerente do Projeto Riocon/ Frigorífico Baby Bode, Yuri Lyra.
Na opinião de Lyra, o mercado está aquecido. “O preço oferecido pela carne de cordeiro em Salvador já está muito próximo do preço de São Paulo”, afirma. O criador José Ranulfo Guimarães discorda.
“Para vender para a Bahia, teriam que pagar o mesmo que São Paulo já está pagando”, ressalta Guimarães.
Ascom-Rezende
Fonte: SEAGRI