Indústria vê queda de US$ 3 bi na exportação de soja este ano
Grãos: Volumes embarcados e preços de vendas deverão recuar em 2010
As exportações de soja e derivados do país deverão render US$ 14,203 bilhões em 2010, segundo projeção divulgada pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove). Se confirmado, o valor será 17,6% menor (pouco mais de US$ 3 bilhões) que o de 2009, quando os embarques somaram US$ 17,240 bilhões, conforme a Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
Segundo a Abiove, as exportações do grão deverão somar US$ 9,485 bilhões, 17% menos que em 2009, em função de baixas no volume dos embarques (5,1%) e no preço médio das vendas (12,5%). Para o farelo, as projeções sinalizam aumento do volume (3,6%) e quedas do preço médio (12,5%) e do valor total (17%); para o óleo, o cenário traçado é de retrações de volume (30,3%) e valor (25,8%), apesar da alta de 6,7% no preço.
O quadro está em linha com a opinião da maior parte dos agentes do segmento, que ressalva que é preciso esperar a conclusão das colheitas na América do Sul, que poderão ser mais prejudicadas pelo excesso de chuvas causado pelo El Niño. Em recente entrevista ao Valor, Antonio Sartori, da corretora gaúcha Brasoja, lembrou que o “weather market” sul-americano deverá influenciar a formação de preços até o começo de março.
Se tudo correr bem como nos EUA, onde as chuvas chegaram a atrasar a colheita da safra 2009/10 no segundo semestre do ano passado mas a produção foi recorde, é de se esperar que o aumento da oferta global pressione as cotações do complexo, que também dependerão da demanda – a chinesa em especial, inclusive em razão da possibilidade de o país restringir a oferta de crédito – e do apetite dos grandes fundos de investimentos.
Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), o país produziu 91,47 milhões de toneladas do grão em 2009/10, 13,3% mais que em 2008/09. Para o Brasil, o USDA estima 65 milhões de toneladas, aumento de 14%, e para a Argentina o órgão americano projeta 53 milhões de toneladas, alta de 65,6%. Nos dois países sul-americanos, sobretudo na Argentina, a safra 2008/09 foi afetada por uma seca. A Abiove prevê uma colheita brasileira de 65,2 milhões de toneladas. EUA, Brasil e Argentina são os maiores produtores e exportadores de soja do mundo.
“Teremos uma safra cheia, o que é bom apesar dos reflexos nos preços”, afirma Fabio Trigueirinho, secretário-geral da Abiove. Para a renda dos agricultores, o aumento da produção também tem seu lado positivo, apesar da tendência de queda da rentabilidade derivada da curva descendente das cotações e do dólar ainda debilitado.
Renato Sayeg, da Tetras Corretora, de São Paulo, lembra que os preços do grão já estão mais baixos neste início de colheita – entre 13% e 17% em Mato Grosso, como já informou o Valor – e projeta média menor para o farelo em 2010. Se o clima seguir favorável e os volumes de produção se confirmarem, Sayeg prevê a tonelada do farelo em torno de R$ 570 no ano, ante média de R$ 790 em 2009.
No Brasil, a previsão de queda dos volumes de exportação de grão e óleo pode ser amenizada pelo mercado doméstico, principalmente no caso do óleo, que encontra demanda crescente por biodiesel. O percentual de mistura de biodiesel no diesel no país foi elevada para 5% em 1º de janeiro, e a matéria-prima básica do biocombustível no país é a soja.
Apesar de as indústrias confiarem no mercado doméstico, a Abiove estima aumento dos estoques finais tanto de grão quanto de óleo em 2009/10. Para o grão, o incremento é de 66,7%, para 1 milhão de toneladas; para o óleo, de 32,9%, para 202 mil toneladas. Os estoques de farelo, conforme a entidade, tendem a permanecer estáveis em 764 mil toneladas. “Os estoques não preocupam, até porque, com o aumento, eles simplesmente voltarão ao normal, a um nível razoável”, diz Trigueirinho.
O USDA prevê aumento dos estoques mundiais de grão e farelo, mas diminuição dos estoques de óleo. Apesar da alta generalizada do complexo ontem, na bolsa de Chicago os contratos futuros de segunda posição de entrega do grão acumulam baixas de 8,73% em janeiro e de 5,83% em 12 meses, conforme o Valor Data. Para o farelo, as quedas naquele mercado são de 8,36% e 11,71%, respectivamente; no caso do óleo, há recuo de 8,71% em janeiro, mas alta de 9,6% em 12 meses, graças ao “fator estoque”. vê queda de US$ 3 bi na exportação de soja este ano
ASCOM-Rezende
FONTE: Valor Econômico/SP