O rio Guamá separa duas tribos que vivem de um jeito muito diferente, todos cidadãos de uma só Belém. A visão do stress, da poluição, do trânsito que não anda vai ficando mais distante a cada milha aproximada da Ilha do Combu. A ideia é esquecer o relógio, porque lá o ritmo das horas é outro. A travessia para a ilha é tranquila e a paisagem que brota da floresta é de encher os olhos. Uma das casas tem cheiro de chocolate e a responsável por isso é a dona Izete, mais conhecida como dona Nena. As imagens mostram algumas das delícias feitas por ela, como um brigadeiro de colher quentinho. A Nena produz chocolate orgânico, em barra, pó. Tudo 100% cacau. O brigadeiro é um sucesso nas feiras.
Ela consegue vender entre 200 e 250 barrinhas por semana. E ela produz tudo de forma artesanal, é demorado, mas é feito sem a ajuda de equipamento moderno para facilitar o trabalho. Com tantos pedidos, a filha de dona Nena, Patrícia, ajuda no trabalho. Ela descasca 14 kilos de amêndoas por semana. Depois de trabalhar no centro comercial de Belém como vendedora, quando percebeu que a mãe estava começando um negócio que tinha tudo para dar certo, pediu pra sair. “Estou bem melhor hoje, trabalhando com a mami, e ganhando um dinheirinho. Estou feliz, muito, graças a Deus”, comenta. Outra ajudante que apareceu para dar uma força no trabalho foi a sobrinha de Nena, Suzana, que virou doceira de uma hora para outra. “Superei a chefe”, fala sorrindo.
A especialidade da Suzana são os bombons regionais com recheio de doce de fruta, mas até ela ficar craque deu muito prejuízo. No início foi difícil, queimou muita panela, mas agora ela aprendeu o ponto. O cacau é plantado em uma agrofloresta, em um sistema que permite produzir alimentos sem derrubar a mata. Nena nasceu na ilha do Combu. “Nós fazíamos caminhada dentro da mata, para estudar, passando igapó, córregos pequenos, conheço isso aqui na palma da mão”, lembra. E é aqui que ela pretende viver e trabalhar até o fim da vida. “Não troco essa ilha pela selva de pedra, não. Só para resolver as coisas rápido e voltar para cá no mesmo dia. Ninguém passa fome. Necessidade na floresta ninguém passa. Sou muito feliz”, conclui.