Teca quer ser a vedete das florestas
Árvore de origem asiática movimenta pesquisasda Embrapa como mais uma opção para a produção florestal e restabelecimento de florestas nativas
Curitiba – A teca, árvore de origem asiática, vive momento de expansão na produção florestal brasileira. Segundo números recentes da Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas (Abraf), a área de teca em escala comercial no País cresceu 10,9% de 2008 para 2009 e hoje ultrapassa os 65 mil hectares.
De acordo com a Abraf, a espécie, cultivada no Sudeste da Ásia desde o século XVIII, era destinada principalmente à construção naval. Hoje, tem vários outros usos: é utilizada na construção civil (para portas, janelas, lambris, painéis, forros), para confecção de assoalhos, decks, móveis, lâminas decorativas.
Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o cultivo da teca no Brasil na forma comercial começou a ser experimentado na virada da década de 1960 para a de 70. A região de Cáceres, no Mato Grosso, recebeu os primeiros cultivos comerciais brasileiros. O apelo da espécie sempre esteve na resistência e na estética. A teca tem óleo-resinas na composição da madeira que fazem com que seja resistente à umidade e a algumas pragas. Já a qualidade da madeira é muitas vezes comparada ao mogno.
Curiosamente, essas duas características principais são diferentes no produto brasileiro em relação ao asiático tradicional, em razão dos ciclos de cultivo.
”No Sudeste asiático, a árvore tinha um ciclo que chamamos de ciclo longo, era plantada e colhida em torno de 80 anos. Uma árvore de 80 anos tem um miolo bem representativo, que é a parte mais dura e nobre da madeira, e a parte mais externa é menor. Aqui no Brasil, as condições econômicas levaram à aposta num ciclo curto, que representa a árvore sendo cortada em torno de 20 anos. A madeira produzida aqui tem a parte externa muito representativa e a parte interna, o cerne, uma porcentagem bem pequena. A nossa madeira, então, é bem diferente, no entanto, as comparações foram feitas com aquela”, explica Guilherme Schnell e Schuhli, pesquisador da área de recursos genéticos e melhoramentos da Embrapa Florestas, de Colombo (Região Metropolitana de Curitiba).
Segundo o pesquisador, o destino da produção florestal brasileira em teca vai, na grande maioria, para a construção do chamado painel-teca, utilizado principalmente em móveis e decoração.
Apesar de alguns Estados, como o Paraná, terem experiências em plantio de teca, o grande centro produtor brasileiro é o Mato Grosso. De acordo com a Embrapa, mais de 50 mil dos estimados 65 mil hectares de teca plantada no Brasil estão naquele Estado. Schuhli aponta que essa concentração acontece porque o tipo de teca predominante na produção do País é adaptado a climas semelhantes ao do Sudesde asiático.
”No Sudeste da Ásia, existem monções, com época de chuvas constantes e um período seco. Nesse período seco, a teca perde todas as folhas, o que é importante para o desenvolvimento da árvore”, diz o pesquisador. Porém, isso não representa que a teca não tenha potencial para ser cultivada em outras regiões (veja box).
A empresa paranaense Berneck Painéis e Serrados planta teca e tem um polo industrial no Mato Grosso. ”Trabalhamos com teca desde 1990, quando foi realizado o primeiro plantio, e hoje já estamos trabalhando com a madeira. A produção é destinada a uma gama de produtos, como madeira serrada seca em estufa, decks e painéis”, relata Fernando Gnoatto, gerente da unidade de negócios serrados da Berneck.
Ele compara os custos e o lucro da teca em relação a outras espécies florestais. ”A floresta de teca tem um alto custo por suas manutenções serem anuais até o corte final, o que gera mais mão de obra se comparada com florestas de pinus e eucaliptos. Por outro lado, a madeira é mais cara em sua cotação internacional”, diz o gerente.
Gnoatto aponta os mercados europeu e asiático como os principais compradores da produção em teca da Berneck. ”Acreditamos que mais produtores e empresas vão se interessar por teca no Brasil, é um bom negocio”, conclui.
Ascom – Armênio