ONU na Floresta de Chocolate da Bahia
Floresta de Chocolate foi o nome cunhado pelo WWI-Worldwatch Institute para exibir internacionalmente a região cacaueira da Bahia, localizada na mega-diversa e ameaçada Mata Atlântica. Rica, esquecida, mal percebida e única no mundo, produz cerca de 4% do cacau do planeta, sediando recordes mundiais em biodiversidade, registrados pelo Jardim Botânico de Nova Iorque, e produz chocolate em estado natural (semente do cacau seca) guloseima cara e nutritiva, hoje muito consumida na Europa, EUA e Japão. A Organização Internacional do Cacau – ICCO, que classifica o Brasil em sexto lugar no ranking dos países produtores, não o destaca como deveria, no primeiro lugar como maior produtor de cacau em ambiente de alta biodiversidade, revelando o verdadeiro status do país, chamando atenção dos amantes do chocolate e dos fundos verdes. Como será que o ICCO se manifestará agora com a força da economia verde jorrando dinheiro novo para florestas produtoras de cacau/chocolate? O Fundo Verde para o Clima, aprovado pela COP-19 (19ª Conferência das Partes da Convenção da ONU sobre Mudança do Clima), encerrada em 22/11, em Varsóvia, poderá destinar bilhões de dólares para projetos em países em desenvolvimento, onde a Bahia é destaque (não mostrado) com a sua Floresta de Chocolate. O acordo prevê financiamento de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação de Florestas (REDD), abrindo novos caminhos para investimentos multibilionários de governos, órgãos de fomento e empresas privadas para deter o desmatamento. Recente estudo piloto da mineradora Vale levantou o valor dos serviços ambientais de uma reserva florestal de 230 km² na pequena zona cacaueira do Espírito Santo. Espécies, estoque de carbono, fornecimento de água, regulação do ar e do clima, entre outros, foram precificados, revelando o valor do ativo para a Vale e para a sociedade. Desenvolvido por um grupo multidisciplinar de profissionais do Brasil, EUA e Espanha, envolvendo o IBGE, a Universidade de Berkeley e cientistas do IPCC/ONU encarregados de mudanças climáticas. US$1 bilhão foi o valor final encontrado. Se apenas 230 km² de floresta vale um bilhão de dólares, quanto vale a Floresta de Chocolate da Bahia com 90.000 km², 89 municípios, e suas ricas, deliciosas e turísticas “Fazendas de Chocolate”, recheadas desses valiosos ativos ambientais? Governos estão investindo em programas de incentivo à rotulagem ambiental, levando o mercado consumidor a privilegiar os produtos com cuidados ambientais. O governo alemão tem o programa de rotulagem ambiental – Blue Engel, para estimular a ecoeficiência nas empresas. O Canadá lançou o Environmental Choice, logo seguido pelo Japão, com o Ecomark; pela Noruega, Suécia e Finlândia, com o Nordic Swan, e pelos EUA, com o Green Seal. Atualmente, dezenas de países conduzem programas de rotulagem ambiental, formando o GEN (Global Ecolabelling Network). Sem ecorotulagem, as ricas matas chocolateiras da Bahia são comoditizadas e sangradas pela mão invisível do mercado sob forma de sacas de cacau – cheias de riqueza e ignorância. Organizações como a SOS Mata Atlântica, Instituto Arapyaú, Instituto Cabruca e Floresta Viva ajudam a romper a casca do casulo que brota do ultrapassado conceito de “região cacaueira” e a bater asas rumo a nova equação “eco-nômica”. Os novos chocolateiros da Mata Atlântica estão descobrindo que as matas das “Fazendas de Chocolate” são uma nova “griffe” cobiçada pelo mercado internacional e entendendo que, na economia verde, a preservação funciona como uma poupança renovável, “in natura”, de ativos geradores de rendas. Descobriram ainda que o verdadeiro chocolate e seus derivados têm alto teor de cacau, são mais nutritivos, podem ser produzidos localmente e vendidos mais caro – com denominação de origem controlada – por embutir o valor da biodiversidade preservada.
Fonte: Mercado do Cacau
Decom Fabiana