Festa da uva em Caxias do Sul
Uma celebração da melhor cepa
Em Caxias do Sul, degustação de frutas e vinhos e shows de artistas de todo o país compõem a programação da Festa da Uva em 2010. Este ano, a cidade ainda comemora os 135 anos de presença italiana na Serra Gaúcha
Ricardo Daehn
“Em ano de festa, só se vê uva e só se fala nela”, conta Charles Venturin, um dos 120 produtores da região de Caxias do Sul. Numa tradição de quase 80 anos, a segunda maior cidade gaúcha mantém acesa a comemoração da abundância espalhada pelo cultivo do fruto da videira. Quando se trata da celebração bienal, que, em 18 dias – entre 18 de fevereiro e 7 de março -, dedicará 170 horas de atividades relacionadas à uva, tudo parece superlativo.
Orçada em R$ 12 milhões, a 28ª edição da Festa da Uva projeta a participação de 1 milhão de pessoas(1), numa cidade orgulhosa de suas estatísticas. Maior produtora estadual de hortigranjeiros, Caxias (a 130 quilômetros de Porto Alegre) esbanja dados de referência: pela média, existe quase um carro para cada dois habitantes; há o maior consumo de tecnologia (em termos nacionais), pela invejável posição de segundo polo metal-mecânico do Brasil, e o reflexo está na concentração de 5,5% do Produto Interno Bruto (PIB) rio-grandense.
Se “o princípio da Festa da Uva é o da dádiva”, como diz a pesquisadora Cleodes Ribeiro, da Universidade de Caxias do Sul, ao lembrar da embrionária arrecadação de fundos para orfanato (no evento de 1931), não há por que duvidar: com distribuição gratuita para os visitantes no Palácio das Uvas, 250 mil quilos da fruta serão comprados de 50 produtores locais.
A meta de ultrapassar a vocação para o turismo de negócios tem como importante vitrine a festa. Ela vem calibrada por iniciativas como cobertura para a cancha de shows – entre outros, para além do nativo Galpão Crioulo, se apresentarão Leonardo, Armandinho e Jota Quest -, e a reaproximação com a comunidade rural (raiz dos festejos). Tudo à parte do natural atrativo gastronômico, claro.
Autoafirmação
“Pode sobrar, mas nunca faltar”, explica Liliana Henrichs, diretora do Museu Municipal e Departamento de Memória e Patrimônio da Secretaria de Cultura de Caxias do Sul, em torno dos convidativos excessos à mesa, uma herança dos 135 anos de colonização italiana na Serra Gaúcha. Boa porta de acesso aos costumes dos imigrantes, o Museu de Ambiência Casa de Pedra (em perímetro urbano) mostra muito mais do que o aprendizado das rudimentares (porém eficientes) técnicas de construção das casas pioneiras, feitas de pedra basalto, barro e araucária. Curiosamente, o museu (inaugurado em 1975) serviu como moradia, barbearia, sapataria, selaria, ferraria, incubadora de ovos, armazém, albergue, churrascaria, açougue e matadouro, como enumera a guia Afonsina Albuquerque.
Com a visibilidade aumentada nas últimas três décadas em grande parte por causa da Festa da Uva, Caxias do Sul perdeu postos de soberania na produção de uvas e vinhos. Mas ao lado do reconhecimento da excelência dos espumantes, da renovação qualitativa dos parreirais (com cepas importadas da França e da Itália) e do revigorado interesse pela qualidade dos sucos (consumidos até no mercado japonês), há a carga histórica embutida na persistência da celebração. Sítio absoluto dos Centros de Tradições Gaúchas – um indício da autoafirmação do caxiense -, a cidade reaviva, na Festa da Uva, qualidades que levaram ao desenvolvimento pioneiro (no Brasil) da coleta automatizada de lixo e na abertura de um CNPJ para cada grupo de 11 habitantes.
1 – Liderança riograndense
Ao longo do evento, um entre cada 10 participantes da festa vem de outro estado. O mesmo percentual (10%) se estende para os visitantes de outras cidades gaúchas. Com relação aos demais estados, as maiores adesões são, pela ordem, de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Santa Catarina. “Nossa projeção de crescimento, a cada dois anos, segue a meta de 5%. Mas a superação do número de participantes depende, na verdade, de fatores favoráveis tanto na questão climática quanto no impacto da divulgação que alcançamos”, explica Gelson Palavro, presidente da Festa da Uva.
O número
R$ 60 milhões
Quantidade de uvas colhidas por ano em Caxias do Sul
O jornalista viajou a convite da organização da festa
Aonde ir
Festa da Uva 2010
Em Caxias do Sul (RS), de 18 de fevereiro a 7 de março. Funcionamento dos pavilhões: de segunda a sexta, das 14h às 22h; sábados e domingos, das 9h às 22h.
Ingressos: R$ 10 (de quinta a domingo) e R$ 7 (de segunda a quarta). Meia-entrada para pessoas a partir dos 60 anos. Haverá shows com Alexandre Pires (19 de fevereiro), Roupa Nova (26 de fevereiro) e César Menotti & Fabiano (6 de março), entre outros.
Para o corso alegórico, no centro da cidade, o valor individual para lugar na arquibancada coberta é de R$ 25. Os desfiles estão marcados para os dias 18, 21, 24 e 28 de fevereiro, além de 3 e 6 de março.
Informações:
0800-541-1875 e, no site www.festanacionaldauva.com.br.
Museu de Ambiência Casa de Pedra
Rua Matteo Gianella, 531, Bairro Santa Catarina; (54) 3221-2423 Funciona com visitas monitoradas, de terça a domingo, das 9h às 17h.
Ascom-Rezende
Fonte: Notícias Agrícolas