Fábrica de plantas

Pesquisador da Embrapa cria biorreator capaz de acelerar o crescimento de mudas de diferentes espécies. Processo consegue ser até 10 vezes mais rápido que a técnica convencional e atrai o interesse de empresas do setor, que já começam a testar o equipamento
Silvia Pacheco

Um equipamento capaz de clonar mudas de plantas de alto interesse agrícola foi desenvolvido pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, órgão da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. A invenção é uma espécie de fábrica de plantas que consegue acelerar o processo de multiplicação das mudas. O sistema, já disponível para o setor produtivo, foi idealizado por meio de um biorreator por imersão temporária que funciona a partir de frascos de plástico, ou vidro, interligados por tubos de borracha, pelos quais as plantas recebem ar e solução nutritiva.

João Batista Teixeira, pesquisador da Embrapa e criador do equipamento, explica que o biorreator é um mecanismo complementar dentro de um laboratório de produção de mudas. O material a ser multiplicado é preparado de forma convencional, no chamado cultivo in vitro, e depois é transferido para o biorreator, para a fase de multiplicação, alongamento e enraizamento. “O equipamento não é uma unidade completa. Existe uma fase anterior, que começa com a coleta e o isolamento de material vegetal, passando por sua esterilização e inoculação”, explica.

O segredo está no sistema de imersão. Há frascos posicionados na frente e atrás do equipamento. Os da frente são ligados um a um aos de trás. Na parte anterior, está o material a ser multiplicado (a gema da planta). No fundo, fica o meio de cultura, que é uma solução com macronutrientes – espécie de sopa composta de sacarose, aminoácido, sais minerais, algumas vitaminas e hormônio vegetal. De tempos em tempos, o meio de cultura passa para o frasco da frente e depois retorna para o frasco de trás (veja arte).

“O equilíbrio desses nutrientes e a forma como eles são passados às mudas – tempo de injeção de ar e imersão de nutrientes – é que definem a qualidade desejada pelo produtor”, esclarece o pesquisador. Outro ponto importante é que o material (no caso, a muda) não fica em contato direto com o meio de cultura, por isso o mecanismo é chamado biorreator por imersão temporária. “Há vários tipos de biorreatores, mas o de imersão temporária é o que tem dado melhores resultados”, atesta Teixeira.

Produtividade

Entre as vantagens do processo com o biorreator em relação aos métodos tradicionais de produção de mudas, Teixeira cita a redução do uso de mão de obra, a aceleração do ciclo de produção, o aumento da produtividade e a diminuição do custo da muda final. Isso porque no processo convencional são utilizadas centenas de frascos para um determinado número de plantas. No biorreator, é possível usar apenas um grande recipiente para a mesma quantidade de mudas. “A fase final do processo, que é a de multiplicação e alongamento das mudas, é que demanda muita mão de obra. Com o biorreator, esse trabalho diminui e o custo final da muda cai em 40%”, informa o pesquisador.

Segundo Teixeira, no biorreator podem se desenvolver cerca de 200 mudas, enquanto no sistema convencional apenas cinco mudas progridem. “Além do biorreator oferecer mais espaço para que as mudas cresçam, o sistema de imersão faz com que elas se desenvolvam segundo as especificações dos produtores. Isso é um ganho expressivo para essas empresas”, esclarece o pesquisador. O biorreator proporciona, também, economia de espaço. Com ele, são usados menos insumos e reagentes para que a planta se desenvolva, e, assim, há menos resíduos para o meio ambiente.

Devido à grande adaptabilidade do equipamento a diversas espécies vegetais, o pesquisador acredita que ele possa ser eficaz em setores como fruticultura e plantas ornamentais. “Abacaxi, banana, morango, eucalipto, bromélias, plantas ornamentais, orquídeas, batata, batata-doce, café, cana-de-açúcar, plantas medicinais. É um bom número de plantas que podem se valer do biorreator”, conta Teixeira.

Mercado

Essas vantagens despertaram o interesse de dezenas de biofábricas no país interessadas em testar o equipamento. A primeira será a Bioclone Produção de Mudas, de Fortaleza, que faz parte do Programa de Incubação da Embrapa desde 2008. Segundo Marcelo Caracas, agrônomo e sócio da biofábrica cearense, o equipamento será fundamental para acelerar a produção de mudas de abacaxi, banana e cana-de-açúcar, além de resultar na obtenção de plantas com mais uniformidade e qualidade para atender as exigências do mercado consumidor.

“A produção de mudas clonadas no biorreator, comparada à produção no sistema convencional, chega a ser 10 vezes maior, dependendo da espécie”, relata Caracas. O agrônomo também destaca a redução do custo final das mudas. De acordo com ele, só a mão de obra significa 70% do preço final para o mercado. Porém, com o uso do sistema desenvolvido pela Embrapa, esse custo será reduzido, trazendo ganhos tanto para a empresa como para o mercado. “No sistema convencional, utilizamos quatro pessoas manipulando 200 mudas. Com o biorreator, vamos precisar de apenas uma pessoa”, explica.

Ascom-Rezende
Fonte: Notícias Agrícolas – EMBRAPA