Costa do Marfim derruba cacau em NY

Após quatro meses de impasse, a Costa do Marfim está prestes a chegar a uma solução para sua crise política. E com isso, os grandes consumidores de cacau respiram aliviados. O país africano é o maior produtor mundial da amêndoa.

As notícias sobre uma negociação para a renúncia do presidente Laurent Gbagbo, que, apesar de derrotado nas eleições do ano passado se recusou a abandonar o cargo, pautaram o mercado futuro de cacau ao longo do dia de ontem. Na bolsa de Nova York, os contratos com vencimento em julho fecharam o dia a US$ 2.993 por tonelada, com queda de U$ 46. Em Londres, os papéis com o mesmo vencimento fecharam a 1.911 libras esterlinas, recuo de 44 libras. Em Ilhéus e Itabuna, na Bahia, o preço médio da arroba ficou em R$ 75,50.

“O fim da turbulência está finalmente à vista “, disse Boyd Cruel, analista-sênior da Vision Financial Markets, de Chicago, em entrevista à Bloomberg. “Os preços devem recuar mais”.

De acordo com as Nações Unidas, três generais leais a Gbagbo negociavam ontem os termos de sua saída com garantias de segurança a ele e sua família. A saída de Gbagbo ocorre um dia depois do ataque de tropas francesas e da ONU ao país – e também da forte pressão de Washington.

Autoridades francesas dizem que a renúncia estava muito perto de acontecer, embora até o fechamento desta edição não havia sido tomada a decisão.

A turbulência política da Costa do Marfim atingiu o cacau depois que Alassane Ouattara, presidente eleito e reconhecido internacionalmente, impôs embargo às exportações do produto em janeiro, como forma de afetar a receita do governo de seu rival.

A medida impediu o escoamento de cerca de 400 mil toneladas de cacau, que ficaram estocados em silos próximos ao porto. Segundo analistas de mercado, esses estoques poderiam chegar à Europa em seis semanas, a partir do fim do embargo.

“Aproximadamente 1,5 milhão de toneladas está estocada no país”, disse o analista Victor Lopes, da Standard Chartered, à Bloomberg. “Por isso, não surpreende que, com a melhora no cenário político, os preços do cacau caiam de forma significativa”.

Antes a mais “lenta” das commodities no mercado agrícola, o cacau registrou uma guinada nos preços desde a eleição de novembro, que culminou com o impasse político e meses de violência que vitimaram mais de 500 pessoas no país, segundo as Nações Unidas. Em novembro de 2010, a tonelada do cacau valia, em Nova York, US$ 2.807. Chegou a atingir US$ 3.695 em fevereiro deste ano.

“Poucos especuladores querem que a volta de exportações demore a acontecer”, disse Keith Flury, analista do Rabobank International, em Londres. A Costa do Marfim fornece cerca de um terço do cacau consumido no mundo. A expectativa do país para a safra atual é de 1,3 milhão de toneladas.

Ascom-Rezende

Fonte: SEAGRI