Brasil serve as mesas do mundo

Diante da forte demanda internacional por alimentos e preços em alta, país prepara novo salto produtivo

Brasília – A imagem idealizada do Brasil como celeiro do mundo está ficando cada vez mais real para exportadores, investidores e pesquisadores do setor agrícola. Em razão das cotações recordes de commodities agrícolas, da crescente demanda externa e até mesmo de catástrofes naturais que assolam seus principais competidores, o país caminha para um novo salto nos próximos anos. Seguindo a trilha aberta pela revolução verde dos cerrados, nos anos 1970 e 1980, ganhos de área e produtividade serão perseguidos para cobrir uma procura mundial por alimentos pelo menos 20% maior até 2020. Para isso, a produção nacional precisaria saltar 40%.

Além da vanguarda tecnológica e produtiva em agricultura tropical no mundo, o país ainda reúne uma conjunção única de fatores favoráveis, como recursos hídricos, iluminação natural e terras disponíveis ao cultivo. Recentemente, também passaram a contar a alta nos preços internacionais de commodities e as perspectivas criadas pelo crescente apetite da Ásia, sobretudo de China e Índia, por alimentos. Para os próximos anos é dada como certa a consolidação da liderança brasileira nas exportações de carnes, soja, açúcar e etanol.

“Mais do que uma aposta de organismos internacionais, os números de crescimento agrícola projetados para o Brasil até 2020 são o maior reconhecimento do seu potencial”, diz o ministro da Agricultura, Wagner Rossi. Em sua visão, as cotações recordes das commodities agrícolas refletem atualmente fortes especulações e, por isso, podem oscilar. De toda forma, ele não tem dúvida de que a ascensão da demanda em países emergentes embalará a expansão do agronegócio nacional. Nesse sentido, vê como assegurado o desenvolvimento ainda maior das culturas de GRÃOS na chamada nova fronteira agrícola do país.

TRAVAS- André Ricardo Passos, sócio da Brunello Passos, consultoria jurídica focada em agronegócios, considera realistas as metas fixadas pelo mundo para a agricultura brasileira. No entanto, acha que seu pleno cumprimento depende ainda da superação de “travas institucionais”. Entre elas estão os impactos de uma reforma tributária sobre o setor e as definições do novo código florestal brasileiro e da legislação que regula a venda de terras para estrangeiros. “O aumento da participação do capital privado no financiamento do campo, ainda dominado pela esfera pública, também é um fator que pode definir o tamanho do salto na produção”, acrescenta.

Aos olhos dos especialistas, a produção agrícola no país nos próximos anos seguirá a tendência das duas últimas décadas, crescendo graças a investimentos em tecnologias, à mecanização e a fatores favoráveis à produtividade, como a qualificação de mão de obra. De 1990 a 2010, a área plantada de GRÃOS subiu de 37 milhões para 48 milhões de hectares, ao passo que a produção, no período, pulou de 57 milhões para 148,8 milhões de toneladas – previsão para a safra atual. “As safras do país no geral já têm batido sucessivos recordes nos últimos anos, independentemente do câmbio valorizado e de gargalos da infraestrutura logística”, afirma Rossi.

O Ministério da Agricultura trabalha com o potencial de incorporação de mais 120 milhões de hectares à produção de GRÃOS. A área considerada apta à agricultura do país é de 388 milhões de hectares, ou 45,6% do território nacional. Mas só 282 milhões (33% do território) estão sendo efetivamente utilizados. Técnicos do governo acreditam que a recuperação de áreas degradadas e novas incursões pelo cerrado garantem espaço mais que suficiente para fazer a produção dobrar em menos de 10 anos. Mas analistas consideram a estimativa oficial – de agregação de duas argentinas ao agronegócio nacional – exagerada, levando em conta as indefinições sobre os preços futuros das commodities e, sobretudo, a legislação ambiental.

Ascom – Armênio

Fonte: Estado de Minas – MG (Sílvio Ribas)