Água Potável em Ilhéus. Um futuro incerto…
Em 05 de fevereiro, com o título ” TFFA(s) – Pesquisa, Fiscalização, Ensino e Extensão, conclamamos aos colegas do Estado da Bahia, que expusessem suas experiências e capacitação no desempenho do exercício das ações desenvolvidas em seus locais de trabalho. Como isto não ocorreu até agora, tomei a iniciativa e espero encorajá-los para tal.
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ÁGUA POTÁVEL EM ILHÉUS. UM FUTURO INCERTO…
José Rezende Mendonça – Téc. Agrícola/Fotointérprete – Aposentado
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Segundo projeções da ONU, no ritmo de uso e do crescimento populacional, nos próximos 30 anos, a quantidade de água potável disponível por pessoa estará reduzida a 20% do que temos hoje.
O mundo está descobrindo que a escassez de água não é uma questão exclusiva de quem mora em regiões desérticas. Agora no século XXI, a água está se tornando a questão central por trás dos grandes conflitos no planeta. Questão que também deveria preocupar os brasileiros. Mas nós brasileiros achamos que temos um país privilegiado com cerca de 14% de toda a água doce que circula pela superfície da Terra, mas devemos esquecer que essa abundância é desigual, pois cerca de 80% da água disponível está na Bacia Amazônica.
São Paulo, que é a maior cidade do país, está perto do limite. O volume de água de rios e represas disponível hoje é praticamente igual à demanda da população, segundo estudo da ONU.
Nesse mesmo estudo, a ONU já menciona conflitos pelo uso da água, que já deixou o Agreste nordestino, chegando ao Sul e Sudeste do país.
Como entender a escassez de água no Brasil, quando se aprende na escola que o país tem a maior bacia hidrográfica do planeta e foi abençoado com chuvas tropicais abundantes. Mas no Brasil a água dá conta de abastecer sua população.
Para não termos problemas no futuro, precisamos começar a agir agora. A primeira ação é usar a água de forma eficiente e adotar tecnologias mais eficazes.
Para se evitar uma futura escassez de água no Brasil, temos que respeitar o Meio Ambiente, e ela começam em não destruir as nossas nascentes. O desmatamento e a pavimentação do solo, para construir casas e estradas, estão secando os mananciais de água limpa que abastecem nossos rios e lagos.
Embora o Brasil seja o primeiro país em disponibilidade hídrica em rios do mundo, a poluição e o uso inadequado comprometem esses recursos em várias regiões do país.
Na Zona Costeira do país, a água limpa está cada vez mais rara e a água de beber cada vez mais cara.
O desperdício chega entre 50 e 70% nas cidades e sem muito cuidados com a qualidade. Assim, parte da água no Brasil já perdeu a característica de recurso natural renovável (principalmente nas áreas densamente povoadas) em razão de processos de urbanização, industrialização e produção agrícola, que são incentivados, mas pouco estruturados em termos de preservação ambiental e da água.
Na zona rural, os recursos hídricos também são explorados de forma irregular, além de parte da vegetação protetora da bacia (mata ciliar) ser destruída para a realização de atividades como agricultura e pecuária.
No geral demos conta que a água no Brasil é suficiente para atender as necessidades da população, apesar da degradação. Neste caso é necessário mais consciência por parte da população no uso da água e, por parte do governo, um maior cuidado com a questão de saneamento e abastecimento.
Por exemplo, 90% das atividades modernas poderiam ser realizadas com água de reuso. Além de diminuir a pressão sobre a demanda, o custo dessa água é pelos menos 50% menos do que o preço da água fornecida pelas companhias de saneamento, porque não precisa passar por tratamento, segundo estudo do próprio governo. Apesar de não ser própria para o consumo humano, poderia ser usada entre outras atividades, nas indústrias, na lavagem de áreas públicas e nas descargas sanitárias de condomínios. Além disso, as novas construções – casas, prédios, complexos industriais – poderiam incorporar sistemas de aproveitamento da água da chuva, para os usos gerais que não o consumo humano.
Bom, entremos agora na complexidade do estudo da água em nossa região e mais precisamente no município de Ilhéus. O município é composto por parte de quatro bacias hidrográficas – a Bacia do Rio Almada, do Rio Cachoeira, do Rio de Contas e Bacias do Leste, tudo conforme levantamento dos Recursos Hídricos feito pela Ceplac para atender o Diagnóstico Socioeconômico da Região Cacaueira em 1976.
BACIA DO RIO ALMADA
O Rio Almada, principal formador da bacia com seus afluentes, banha áreas dos municípios de Almadina, Coaraci, Barro Preto, Itajuípe, Uruçuca e Ilhéus. Esta bacia ocupa uma superfície de cerca de 1910 km², mas apenas 662 km² desta bacia estão inseridas no município de Ilhéus. O Rio Almada em toda sua extensão mede 94 km, suas águas de coloração preta têm suas origens na Serra do Pereira no município de Almadina.
Dentro desta bacia no município de Ilhéus, existe uma única lagoa de importância, a do Itaípe ou Lagoa Encantada. Dista cerca de 7,5 km da costa em linha reta e cerca de 22,5 km do centro da cidade. Seu espelho d’água apresenta uma área de 7 km². Esta lagoa tem como afluentes os riachos Caldeiras, Taguaril, Buranhém, Serrapilheira, Inhape e Ponta Grossa. A atual importância desta lagoa prende-se à sua piscosidade, desenvolvendo-se aí as atividades da vila de pescadores.
O Rio Almada tem como principais afluentes no município de Ilhéus os riachos ou ribeirões: Itariri, Sete Voltas, do Banco, Água Preta, Mocambo, São José ou do Bicho, Catongo, Jussara e Pimenteiras. Que poderão de acordo ao estudo que se queira analisar, formar micro bacias, para represamento com as mais diversas finalidades.
Esta bacia está na sua totalidade a Leste da zona de transição, ou seja, na região da Mata Litorânea. Cerca de 2/3 desta área é ocupada com a cultura do cacau (Theobrama cacao). É de se notar ainda a presença de capoeiras – vegetação secundária – em vários estágios de desenvolvimento. Já próximo de sua foz, o Rio Almada atravessa uma região de brejo que se caracteriza principalmente pela ocorrência de Ciperáceas e de algumas espécies arbóreas como o Olandi (Bymphomia globulifera Linn) e Imbaúba (Cecropia sp). Já próximo à sua desembocadura, registra-se a presença de pequenas formações de Mangue e Restinga.
BACIA DO RIO CACHOEIRA
O Rio Cachoeira, principal formador da bacia juntamente com sua rede de drenagem, banha áreas dos municípios de Itororó, Firmino Alves, Floresta Azul, Santa Cruz da Vitória, Itaju do Colônia, Ibicaraí, Buerarema, Itapé, Itabuna, e Ilhéus, possuindo uma superfície de 4.380 km². Mas, apenas 558 km² desta bacia estão inseridas no município de Ilhéus.
Seus afluentes principais dentro do município são formados por rios, riachos e ribeirões tais como: Rio Macuco, Rio Santana, Rio Santaninha, Ribeirão do Japú, Ribeirão do Iguape e Ribeirão Esperança.
As características de cobertura vegetal desta bacia é predominantemente de Gramíneas, ocorrentes de maneira geral em Pastos Limpos (manejado), existindo ainda várias manchas de matas de médias extensões ao Sul, isto na metade superior da bacia. Já na parte inferior da bacia, encontram-se concentração de cultivos de cacau ao lado de formações de Capoeira (vegetação secundária) e pequenas pastagens. Próximo à desembocadura encontram-se formações de Mangues, em estágios arbustivos e semi-arbóreos. Ao Sul de Ilhéus, faz-se notar uma faixa de Restinga, com sua vegetação rasteira. Vale salientar que estes tipos de vegetações encontram-se atualmente degradados pela ação do homem na corrida sem planejamento para localização de loteamentos e o despejo de efluentes domésticos, industriais e lixos de modo geral.
Nesta bacia, dentro do município temos dois sistemas de abastecimentos d’água, com as seguintes características:
A) Fonte de capitação: Rio Iguape
- Capacitação: barragem de terra
- Volume/armazenado: 7.500.000 m³.
- Área inundada: 150 ha
- Adutora: construída de ferro dúctil cimentado, ø 550 mm, sendo bombeada para Estação de Tratamento em uma extensão de 9 km.
- Capacidade: 342 litros/s
- Reservação: 700m³
- Tratamento: completo, tipo convencional (floculação, decantação, filtração e desinfecção). Fonte EMBASA-1976.
B) Fonte de capacitação: Rio Santana
Até a presente data, a EMBASA-Ilhéus, não nos forneceu os dados, com solicitação desde 12 de janeiro de 2010.
Cabe ressaltar que o sistema mais antigo (Riacho da Esperança), abasteceu a cidade até o ano de 1973, quando então foi inaugurado o novo sistema, do Rio Iguape para suprir as necessidades do consumo, em virtude deste tornar-se insuficiente para o abastecimento da população. Mas já se comenta em reativar este sistema, para que junto com os dois sistemas existentes venha melhor suprir a população.
Características do sistema Riacho da Esperança em 1973:
- Fonte de capitação: Riacho da Esperança
- Captação: barragem de concreto ciclópico.
- Volume armazenado: 293.000 m³.
- Adução: em tubos de ferro fundido, ø 500 mmm, com uma extensão de 3.900m.
- Capacidade da Estação de Tratamento (ETA): 104 litros/s
- Reservação: quatro reservatórios com as seguintes capacidades:
a) Alto da Favela – 4.000m³
b) Stand pipe – 1.000 m³
c) Pontal – 2.100 m³
d) ETA – 2.00 m³
Hidrografia da Reserva da Mata da Esperança
A rede de drenagem desta micro bacia, que tem todas suas nascentes no complexo da mata da esperança, possui uma superfície aproximada de 359 ha com uma densidade de drenagem da ordem de 25,06m/ha.
O ribeirão principal tem sua nascente a Noroeste da mata, com uma extensão de 1.800m. Seus afluentes são riachos, perfazendo um total aproximado de 9.000m. As águas do ribeirão e seus afluentes convergem para extremidade Leste da mesma mata, onde represam suas águas, formando a antiga represa de abastecimento de água da cidade, com uma área de 7,5 ha.
Nos últimos anos a esta mata vem sofrendo pressões antrópicas das populações, que residem nas suas imediações, principalmente na extração de varas e esteios para construção de casas e lenha para cozinha. Em 1994 houve um desmatamento onde foram retiradas várias madeiras de lei, usando-se moto serras, tratores e caminhões, já em 1995 ocorreu um incêndio criminoso e neste local a população aproveitou-se para invadir a mata e retirar as toras de madeiras para o fabrico de carvão vegetal.
BACIA DO RIO DE CONTAS
O Rio de Contas apresenta apenas alguns de seus afluentes ao Norte do município, assim denominados: Ribeirão dos Três Braços, da Folha Podre, da Pedra Furada, da Visagem, do Banco Central, do Meio, do Catolé e Catolezinho.
Esta bacia tem uma área total de 55.483 km², mas apenas 114 km² estão no município de Ilhéus. Portanto uma micro bacia sem muita importância para exploração de água potável para a cidade. Fica o município neste caso, condicionado a captar água em municípios vizinhos que compreendam a Bacia do Rio de Contas, como é caso de Ubaitaba, Aurelino Leal e outros.
BACIAS DO LESTE
Formadas por três rios: ao Norte do município pelo Rio Sargi, a Leste pelo Rio Cururupe e seus afluentes (Ribeirão Curupitanga e ribeirão do Cardoso), e ao Sul pelos Rios Acuípe e seus afluentes e os afluentes do Rio Maroim.
Pela divisão atual das bacias a nível nacional é consideradas Bacias do Leste todas aquelas que não fazem parte dos chamados grandes rios como: Rio São Francisco, Rio Amazonas, Rio Paraná, Rio de Contas, Rio Paraguaçu, etc. Nesta divisão, por exemplo, o Rio Cachoeira, Almada, Santana, Una e muitos outros do litoral brasileiro, são considerados como Bacias do Leste. Mas, o nosso estudo considerou uma divisão regional para melhor desenvolvermos as características de cada bacia.
Ilhéus não poderia ser diferente do resto do país com os mesmos problemas que aos poucos vem afetando estas bacias hidrográficas do município. O desmatamento desenfreado, principalmente nos remanescentes de Mata Atlântica, tanto com a finalidade de aproveitamento da madeira de lei por serrarias clandestinas, e o desmatamento pelo advento da doença vassoura-de-bruxa, que quase devastou toda a lavoura cacaueira do município, além da chegada dos “sem-terra” nesta região, através da Reforma Agrária que fizeram tombar milhares de árvores, para montar a infraestrutura, e até vendê-las, devido à demora do Governo Federal, na liberação de verbas para tais assentamentos.
O que se sabe, é que mais uma vez a Mata Atlântica que protegia os cacauais e consequentemente os solos e os rios deste município e região estão cada vez mais condenado a lembranças de meras árvores isoladas.
Além disso, a má distribuição de chuvas nesses últimos 30 anos e a poluição dos nossos rios principais, que antes detinham um grande volume de água, hoje está cada vez mais secos e aqueles riachos, córregos, ribeirões, etc., praticamente se tornaram temporários, principalmente na zona de transição climática, que justamente onde está localizados a maioria das nascentes destas bacias.
Esta somatória de fatores que degradaram o Meio Ambiente irá com certeza refletir futuramente na escassez de água para o consumo humano.
Em novembro de 2008 e mais recentemente em dezembro de 2009, os jornais, sites e blogs da região davam como manchete a falta de chuva na região por mais de 70 dias. A vizinha cidade de Itabuna sofreu com a falta de água. Em alguns bairros, o jeito foi apelar para o carro-pipa. Houve pessoas que lavaram as roupas domésticas com água mineral. O hospital Manoel Novaes, chegou a cancelar algumas cirurgias seletivas e visitas à UTI. Isto é um pequeno exemplo do que nos espera daqui uns 20 anos, se nada for feito pelo poder público em educação ambiental, planejamento da expansão urbana e melhor racionamento dos nossos recursos hídricos.
Cabe aos órgãos governamentais recomendar melhores soluções para os diversos municípios que compõem as bacias hidrográficas desta região, e não ficar apenas em discursos, reuniões, seminários e congressos, onde normalmente só atinge a comunidade cientifica. É preciso finalmente, atingir o homem que dela vive e trabalha.
CONCLUSÕES:
O artigo teve a finalidade de mostrar de forma simples elementos para o planejamento dos recursos naturais da cidade de Ilhéus, que deverão ser complementados por estudos fluviométricos e pluviométricos, que quando obtidos servirão de base para elaboração das conclusões e de sugestões no sentido de uma utilização mais racional dos recursos hídricos do nosso município.
Ascom-Rezende
Texto: José Rezende Mendonça – Técnico Agrícola/Aposentado